Logo vai escurecer e não veremos nada além na escuridão, não veremos o samba e não seremos Veloso, nem muito menos democratas, cristãos ou sequer comunistas, seremos o que sempre fomos santamarenses sofredores por natureza santamarense.
Aproveitaremos a penumbra para nos orgulharmos de artistas e anões, de fantasmas e casarões, de sermos escravos e de ainda termos barões, afinal esse é o lugar mais brasileiro que existe um paraíso para “descobridores” que vem catequizar a população por alguns reais por semana, população na maioria das vezes culpada pelo seu próprio latrocínio, culpada por desconfiar de todo e qualquer cidadão santamarense que fale, declame ou proteste, talvez por isso amarguemos até hoje o doce sabor do chumbo.
Ao mais longo prazo, criam-se punhados de intelectuais ou aproveitadores (como preferir) que dizem amar nossa cidade em suas músicas, entrevistas ou em seus programas de TV, sensibilizando-se sempre com a condição precária de vida de seus primos, parentes, conterrâneos, ao buzinar de dentro de seus carros. Ao mais curto prazo vemos chegar ao estado de cidade grande a nossa violência, assassinatos, assaltos, furtos, ações policias em vão, ações municipais muito mais em vão, enquanto a população cresce da forma mais desordenada possível e cria-se um decreto para que não se construam casas de taipa.
Em verdade nossa cidade está em um quase eterno coma alcoólico, desde a época dos engenhos, passando pelos alambiques e chegando a idade contemporânea em que há o predomínio dos bares espalhados por toda cidade, olhe e verá as passarelas do álcool, poucas são as ruas em que não existe um bar e onde não existir um bar com certeza vai existir um bêbado.
Chegando a noite cansados de trabalhar, cansados de beber, cansados de ser santamarenses, quase vivos, iremos para nossa casa e amanhã faremos tudo de novamente.